Desafio é pensar a felicidade em contexto de desilusão’, diz professor de filosofia

O doutor em Filosofia e professor da Uerj Alexandre Marques Cabral afirmou nesta quinta-feira, em oficina no 9ª Fórum de Gestão Judiciária, que no mundo atual individualista as pessoas “se esbarram”, mas não “se encontram” de verdade. “Há uma falta de pertencimento nas relações humanas. Não são relações viscerais. As pessoas se esbarram nas ruas, mas não existe o encontro verdadeiro. A indiferença se tornou um ato normativo. Nosso desafio é como pensar a felicidade como integridade em um contexto de opacidade e desilusão.”

Cabral apresentou diferentes concepções de felicidade de autores da Grécia Antiga para contrapor às noções modernas. Ele citou pensadores como Aristóteles, Sêneca e Epicuro para apresentar uma ideia de felicidade que contempla sentimentos como dor e sofrimento, plenitude e relação com o outro.

Para os gregos, um importante atributo da felicidade era a noção de relação. Não há felicidade sem o outro e o mundo. Neste sentido, Cabral criticou a concepção moderna de felicidade individual.

Segundo o professor, a sociedade moderna criou uma concepção fragmentada da vida, em que é possível compartimentar sentimentos e, assim, criar normas universais de condutas que nos levariam à felicidade. Para os pensadores antigos, este tipo de raciocínio não faria sentido, pois não existiriam regras ou passos a serem seguidos rumo à felicidade.

“Pensamos a felicidade com um açougue. Não pensamos na integralidade, e sim nas partes. Para os antigos, a felicidade não poderia ser concebida por métodos prescritivos. Em grego, nem existe a palavra pecado. Um grego jamais perguntaria se um ato seria considerado pecado. Ele questionaria em qual circunstância foi feito e se aquele ato poderia levar à felicidade. Não existe regra.”