TRT-1 promove projeto para magistrados viverem dia em outras profissões

A Escola Judicial do TRT-1 promoveu em agosto a terceira edição do projeto que permite a magistrados vivenciar um dia em outras profissões. Gari, telefonista, servente de limpeza e auxiliar de serviços gerais foram algumas das atividades desempenhadas pelos participantes. Antes da prática, os magistrados passaram por um treinamento teórico de dois dias com Fernando Braga, psicólogo e professor da Universidade de São Paulo (USP).

O presidente da AMATRA1, Ronaldo Callado, passou um dia como gari da coleta seletiva da Comlurb na Zona Sul do Rio de Janeiro e considerou sua experiência muito positiva.  “O ambiente de trabalho me impressionou pela alegria, pela brincadeira entre as funcionárias. Elas mostraram preocupação comigo por eu ser novato”, disse. “Vou guardar essa experiência pelo resto da vida, fui muito bem tratado pelas duas garis, ambas Ana  e pela motorista do caminhão. Cresci com essa vivência. Não senti a questão da invisibilidade por não ter tido contato com o público externo e, sim, com as funcionárias da empresa”, afirmou. Ele só revelou que era juiz ao fim do dia de trabalho.

Presidente da AMATRA1, Ronaldo Callado passou um dia como gari da Comlurb

Rosane Catrib, diretora de Prerrogativas e Direitos da AMATRA1, passou um dia como servente entre funcionários da Novo Rio, empresa terceirizada que presta serviços de limpeza para a Fundação Oswaldo Cruz. “Não existe solidão na profissão. É um trabalho em equipe em que um ‘depende’ do outro, então a solidariedade é muito forte entre os funcionários. São pessoas muito cuidadosas e que sentem muito orgulho do trabalho executado”, afirmou a juíza.

As juízas Raquel Fernandes e Rosane Catrib foram serventes de limpeza na Fiocruz

A preparação dos magistrados consistiu em aulas teóricas com orientações sobre a vivência no novo local de trabalho, além de antecipações teóricas de sociologia, antropologia e psicologia social. Para o professor Braga, a experiência é benéfica para os participantes porque propõe o deslocamento para uma realidade diferente em relação ao ofício, mas similar em desgaste e invisibilidade. 

“Esse tipo de atividade tende a fazer com que o magistrado debruce a atenção sobre trabalhos pouco qualificados e subalternizados e, portanto, já induzem à invisibilidade do ponto de vista público. A experiência propõe ao magistrado considerar também o tanto que ele próprio fica invisível, porque ele atua apenas como função. Ele, como pessoa, fica apagado”, disse.

Adriana Leandro, vice-presidente da AMATRA1, afirmou ter experimentado o real sentido da palavra empatia pela forma com a qual foi recebida pelas demais telefonistas da empresa Liderança. “O mundo só tem jeito se tiver empatia. As funcionárias tentam se colocar no lugar do outro e foram muito cuidadosas comigo. Me deu uma revigorada por ver que ainda existe quem se importe verdadeiramente com os outros. Foi uma experiência muito positiva”, disse a juíza.

Vice-presidente da AMATRA1, Adriana Leandro foi telefonista na Liderança

O juiz do Trabalho Renato Alves Vasco destacou como ponto marcante em sua experiência a relação próxima entre os membros da equipe de garis de varrição de rua da Comlurb. “Quando eu cheguei, falaram para mim: ‘Você vai gostar daqui, somos uma família’. Eu fiquei abalado porque nunca, na minha experiência profissional, ouvi algo parecido. Nunca tive esse sentimento de pertencimento a algum lugar”, contou.

Proximidade entre garis marcou o juiz do Trabalho Renato Alves Vasco