10 de janeiro de 2020 . 17:19

Documentário revela histórias de resgatados do trabalho escravo

Jornada exaustiva, servidão por dívida, condições degradantes, intimidação e restrição da mobilidade. O cenário, realidade de milhares de brasileiros, é retratado no documentário “Precisão” através dos relatos de seis trabalhadores resgatados de condições análogas às de escravizados. A obra foi produzida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), e lançada em 28 de novembro de 2019, no Maranhão.

Uma das protagonistas do filme, Gilza dos Santos, aos 50 anos, foi vítima de trabalho infantil aos 8, quando começou a cuidar de crianças, limpar e cozinhar sem receber remuneração. Aos 18 anos, passou a trabalhar em uma carvoaria.

“Fazia todo serviço da casa. Não tinha a licença de brincar com ninguém, e não aceitavam que eu fizesse uma carta para mandar para minha família. Fiquei uns três anos sem dar notícias”, disse Gilza.

Segundo dados do Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas, mais de 45 mil trabalhadores em condições degradantes foram resgatados pela fiscalização entre 2003 e 2018. Desse total, cerca de 31% eram analfabetas, 39% tinham estudado só até o 5º ano e 16% tinham chegado entre o 6° e o 9° anos.

Marinaldo Soares Santos, 48 anos, foi uma das crianças a ter que abandonar a escola  para ajudar os pais na roça. Aos 16, começou a trabalhar em fazendas e foi resgatado 14 anos depois, após denúncia da ONG CDVDH/CB (Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humano Carmen Bascarán). Marinaldo acabou retornando ao local de exploração por conta de sua precisão - termo usado por maranhenses para definir a extrema necessidade de lutar pela sua sobrevivência e que dá título à obra.

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“Tinha muito medo de procurar meus direitos. Hoje, não aceito fazerem comigo o que fizeram no passado. E se vir acontecer com algum amigo, estou junto para lutar pelo direito dele também”, disse Marinaldo.

A produção também mostra trechos de operações da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (DETRAE) em ambientes de exploração, como em plantações de cacau e cebola, onde crianças trabalham sem qualquer tipo de pagamento além da comida oferecida no local. Para Maurício Krepsky Fagundes, auditor-fiscal do Trabalho e chefe da DETRAE, existe uma “relação muito forte do trabalho infantil com o trabalho escravo”, já que a maioria dos trabalhadores resgatados afirma ter começado aos 13 anos, em média.

“A erradicação do trabalho infantil é uma forma de prevenção do trabalho escravo, porque vemos que a grande maioria dos trabalhadores escravos foram trabalhadores infantis. Se erradicar o trabalho escravo, o trabalho infantil é prevenido porque acaba a condição de pobreza da família. Muitas vezes a família coloca a criança para trabalhar por uma questão de pobreza e vulnerabilidade”, afirmou Maria Cláudia Falcão, coordenadora nacional de princípios e direitos fundamentais no trabalho na OIT Brasil.

No vídeo, a procuradora do Trabalho Virgínia Neves destacou a existência de canais seguros e anônimos de denúncia sobre casos de trabalho escravo para as autoridades responsáveis.

“O MPT, especificamente, está atuando na questão repressiva de maneira forte. Os órgãos que estão presentes, normalmente são auditores-fiscais, procuradores do Trabalho e Polícia Federal ou Rodoviária. Essa estrutura é necessária porque cada um tem um papel importante para que o resgate aconteça de forma segura tanto para quem faz a fiscalização quanto para o resgatado”, disse.

Veja o documentário na íntegra: < VOLTAR