Autoritarismo aproxima mercados de trabalho coreano e brasileiro, dizem especialistas

O autoritarismo na relação entre patrões e empregados é o ponto comum entre os mercados de trabalho do Brasil e da Coreia do Sul. Uma comparação entre os mercados de trabalho na Coreia do Sul e no Brasil foi o tema do terceiro painel do 32º EMAT, nesta terça-feira (9), no TRT-1 (Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região). Je Seong Park, do Instituto Coreano do Trabalho, apresentou as características do ambiente trabalhista em seu país. A desembargadora do TRT-1 e professora da UFRJ Sayonara Coutinho Leonardo da Silva e o professor Pedro Augusto Gravatá Nicoli (UFMG) compuseram a mesa.

O especialista coreano explicou que a relação de trabalho no país é historicamente marcada pela forte noção de hierarquia e autoridade, e os trabalhadores são frequentemente submetidos a humilhações, em uma relação de “vassalagem”.

“Durante a industrialização do país, os trabalhadores atuavam como soldados e os empresários, como comandantes. Na prática, uma relação de vassalagem. A geração anterior acreditava que, se a compensação fosse boa, valia a pena a humilhação. As gerações novas estão questionando, buscando dignidade. Há protestos. Os trabalhadores do século 21 gritam que não são escravos.”

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Segundo Park, o ingresso dos jovens ao mercado de trabalho tem gerado tensões na sociedade da Coreia do Sul. O professor coreano explicou que uma das causas da natureza autoritária do mercado de trabalho do país é o predomínio de empresas familiares. “É uma ‘monarquia’ do dinheiro que passa de pai para filho”, disse.

A desembargadora Sayonara destacou a semelhança entre Coreia do Sul e Brasil. Segundo ela, também aqui as empresas funcionam a partir de forte base hierárquica, com exercício da autoridade. “Para nós, o grande desafio em uma sociedade autoritária foi conceber o Direito do Trabalho como um direito humano. A cidadania ficava do portão para fora.”

O professor Gravatá Nicoli falou sobre os primórdios da civilização chinesa para demonstrar como a concepção de trabalho familiar se transformou na visão ocidental, de trabalho como esforço. O especialista explicou que a transformação se concretizou no início do século 21, com o crescimento da proteção trabalhista na China a ponto de o custo do trabalhador local ultrapassar o do brasileiro nos últimos anos.