13 de outubro de 2020 . 13:24

Condições precárias de trabalho são debatidas em live cultural da AMATRA1

As condições precárias enfrentadas por trabalhadores de minas de carvão no filme “Como era verde meu vale” foram abordadas pela professora Regina Horta Duarte (Fafich/UFMG) e pelo procurador do Trabalho Bruno Martins Mano Teixeira (PRT/12 - SC) na live cultural da AMATRA1, na sexta-feira (9). Mediada pela juíza do Trabalho Anelise Haase de Miranda, a conversa também tratou da degradação do meio ambiente, assunto atual e que está presente no clássico de 1941. A live está disponível na íntegra no canal da AMATRA1 no YouTube e no Facebook.

Dirigido por John Ford, o filme — vencedor de cinco estatuetas do Oscar — foi baseado no livro homônimo escrito por Richard Llewellyn. A obra retrata a realidade de um vilarejo no País de Gales, onde a exploração de minas de carvão é a principal atividade, e foca nas condições de vida e de trabalho da família de mineradores protagonista, pontuou a magistrada Anelise.

A história é contada através das memórias da infância de Huw Morgan, quando o pai e o irmão eram trabalhadores da mina de carvão. Para Regina, Huw pode ter retomado as lembranças de forma idealizada no que se refere à realidade dos mineiros.

“Talvez a criança idealize o passado que nunca existiu, sem conflitos, de alegria e felicidade. Mas, na verdade, trabalhadores de minas sempre tiveram condições horríveis de trabalho. O que acontece é a precarização e a vulnerabilidade cada vez maior desses trabalhadores, mas a vida nunca tinha sido fácil.”

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Procurador do Trabalho em Criciúma, cidade no sul de Santa Catarina conhecida como uma região carbonífera, Bruno Martins já fez inspeções em minas. Ele contou que, assim como no filme, os locais de extração são em subsolos, e os problemas apresentados na obra ainda são atuais.

“Por incrível que pareça, a situação do meio ambiente de trabalho mudou muito pouco no decorrer dos anos. Aqui em Criciúma, até meados da década de 1980, era uma sistemática bastante semelhante à retratada no filme, com uso de dinamite para abrir as galerias, carrinhos para transportar, elevador para descer até a mina. Situações que também encontramos hoje em dia. Existem minas com tecnologias um pouco mais avançadas, mas ainda existem as que fazem dinamitação, que têm infiltrações de água e queda de paredes e do teto”, disse o diretor da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT).

Anelise falou sobre as condições do sistema precário de prevenção de acidentes, citando uma decisão judicial de um magistrado de Criciúma, de 2010. “Ele chega a citar que, para avisar os empregados da iminência de uma explosão, usam-se ainda apitos e lanternas.” 

Degradação da natureza

Regina destacou que um dos pilares do filme é a destruição da natureza, fato que nomeia a obra, e que o autor não dissocia a degradação do ambiente da deterioração dos mineiros. “Porque, na verdade, nesses ambientes de trabalho, quem sofre mais com as condições insalubres são os trabalhadores; não era o dono da mina que ficava doente”, ressaltou.

Segundo a professora e autora do livro “História e Natureza”, que trata da questão ambiental por um viés histórico, a extração de carvão no sul do País de Gales se fazia desde cerca de 1850, e a obra retrata a exaustão dos trabalhadores e a contaminação das paisagens.

“O filme mostra a exploração dos seres humanos e dos recursos. No vale, as cenas vão se esfumaçando. As flores que aparecem em duas cenas em que há o verde idealizado - Huw com o pai no início e, depois, ele conversando em um passeio depois se recuperar de uma doença. Depois, a fotografia fica cada vez mais poluída, mais suja. As pessoas vão ficando sujas.”

Para Bruno, a questão do meio ambiente discutida no longa também é presente atualmente. “No filme, vemos situações de hoje: extração mineral, garimpos que causam degradação ambiental descontrolada. É triste pensar que, um século depois, precisamos enfrentar os mesmos problemas”, afirmou.

Veja a live na íntegra:
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