20 de abril de 2022 . 13:31

Filme ‘Pureza’ retrata a luta contra o trabalho escravo contemporâneo

Inspirado em uma história real passada na década de 1990, o filme “Pureza” aborda um problema ainda muito atual no Brasil: o trabalho em condições análogas às de escravizados. Com apoio da AMATRA1 e diversas instituições, a obra brasileira mais premiada de 2020 estreia nos cinemas de todo o país em 19 de maio, com exibições sociais e gratuitas em cidades que têm foco de trabalho escravo. A juíza do Trabalho Daniela Muller, diretora da associação, participou da exibição especial do filme. Ela ressalta a importância de tratar o tema no cinema, que vai expandir a urgência de enfrentar essa questão e garantir direitos trabalhistas a todos.

“É uma excelente obra audiovisual. Embora o tema seja muito pesado e difícil até para nós, do Judiciário, lidarmos nos processos, o roteiro e os atores conseguem nos colocar em contato com o assunto de forma muito bem feita. O filme nos envolve e nos faz ter vontade de ver até o final para saber o desfecho do enredo de ação e emoção. O resultado nos leva a querer conhecer mais essa realidade, e esse é um dos grandes méritos”, afirmou Daniela.

Dirigida pelo cineasta Renato Barbieri, da Gaya Filmes, a produção tem como protagonista Pureza, interpretada por Dira Paes. Na história, ela sai à procura do filho Abel (Matheus Abreu), que desaparece após ser enganado por uma oferta de emprego na Amazônia.

Pureza sai em busca de seu filho, desaparecido após aceitar emprego na Amazônia

Autora do livro “Representação Judicial do Trabalho Escravo Contemporâneo”, a magistrada pontua que a falta de oportunidade de emprego faz com que jovens em vulnerabilidade econômica migrem para longe de seus locais de residência e de suas redes de apoio. “Ao serem obrigados a migrar, a partir de falsas promessas de trabalho, se veem totalmente à mercê dessa exploração extrema, em que a integridade moral e física fica muito ameaçada.” 

Durante sua busca, Pureza descobre um esquema que alicia trabalhadores rurais e resolve se candidatar à vaga de cozinheira em uma fazenda, onde presencia as condições indignas e violentas vividas pelos trabalhadores, além da degradação do meio ambiente. Ela escapa do local para denunciar às autoridades mas, sem credibilidade, resolve voltar para registrar provas. 

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“O filme cria outra abordagem, diferente da que costumamos ver em ações institucionais repressivas – que precisam existir, mas acabam não repercutindo tanto na sociedade”, disse Daniela. “É relevante também na função de levar ao conhecimento de um maior número de pessoas a atividade de atores institucionais, como o Ministério Público e auditores do Trabalho, por exemplo. É deixado bem claro que, se não houvesse a estrutura do Ministério do Trabalho, os grupos de fiscalização móvel, essenciais para o combate ao trabalho escravo, não teriam sido criados”, completa.

De acordo com Daniela, a produção combate o discurso propagado atualmente de que há exagero da fiscalização, que estaria considerando como irregularidade trabalhista situações banais, como os empregados dormirem em locais simples e não em hotéis de luxo. “O filme mostra muito bem que não é isso. Trabalhadores e trabalhadoras são submetidos a condições extremas de falta de dignidade, com restrição de acesso a água potável, adoecimento, dívidas, violência de capatazes armados.”

Pureza presencia violência vivida pelos trabalhadores escravizados

Em sua visão, casos de trabalho escravo no Brasil ainda são muito frequentes por fatores como a desigualdade social extrema, a desigualdade regional e a rentabilidade adquirida pelos exploradores. “É a conjunção da extrema vulnerabilidade econômica social de uma grande parcela da população com a possibilidade de conseguir ganhos rápidos e altos com esse tipo de exploração que faz com que essa situação se perpetue, não só no ambiente rural, mas também nos centros urbanos, na construção civil. É uma grande cadeia produtiva que explora cruelmente homens e mulheres”, ressaltou.

A diretora da AMATRA1 espera que a trajetória de coragem, resistência e amor aos filhos da maranhense Pureza Lopes Loyola, agora eternizada no cinema, sirva de inspiração para incentivar o apoio popular ao fortalecimento da política pública de combate ao trabalho escravo construída pelo Brasil.

“Desejo que, em pouco tempo, esse filme seja apenas uma memória do que não queremos repetir, e não mais uma representação do que ainda temos que combater.”

Veja o trailer do filme “Pureza”:


*Fotos: Divulgação/Gaya Filmes < VOLTAR