05 de abril de 2021 . 15:09

Juíza Bárbara Ferrito lança livro e fala de feminismo e administração do tempo

O feminismo e as desigualdades relacionadas à administração do tempo dedicado ao trabalho por mulheres e homens foram temas tratados no lançamento do livro “Direito e Desigualdade - Uma análise da discriminação das mulheres no mercado de trabalho a partir dos usos dos tempos”, da juíza do Trabalho Bárbara Ferrito. O evento, na terça-feira (30), foi em formato de live, e promovido pela AMATRA1, em parceria com o Grupo de Pesquisa CIRT (Configurações Institucionais e Relações de Trabalho). A mediação foi da juíza Áurea Sampaio, e a íntegra está disponível no YouTube e no Facebook.

Mestre em Direito pela UFRJ, Bárbara, diretora adjunta de Cidadania e Direitos Humanos da AMATRA1, abordou os principais pontos de sua obra em um bate-papo com a desembargadora do TRT-9 (PR) Thereza Gosdal, mestre e doutora em Direito pela Universidade Federal do Paraná, e a mestranda da UFRJ Luana Leal, integrante do grupo de pesquisa CIRT e residente jurídica da Defensoria Pública. 

Segundo a autora, não é possível falar da condução do tempo para o trabalho sem partir de um olhar feminista, colocando a mulher na centralidade das questões de gênero. “É importante fazer uma contextualização histórica do feminismo para entender como o mercado de trabalho se estrutura a partir de violências contra a mulher. Essas violências são percebidas apenas se aprendermos os valores e alguns princípios da luta das mulheres por igualdade”, disse Bárbara, que também é diretora executiva do Encontro Nacional de Juízas e Juízes Negros (ENAJUN).

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A magistrada explicou que o livro mostra “como o tempo é um fator de controle social e de poder”, e demonstra como a administração do tempo dedicado ao trabalho não é prerrogativa de todos: algumas pessoas podem determinar como as outras vão lidar com isso, enquanto são soberanas no uso de seu próprio tempo. “Isso gera impactos, principalmente se existe um mercado de trabalho que desconsidera essas circunstâncias de uso diferenciado do tempo quanto ao gênero”, esclareceu.

Na etapa final da obra, ela aborda a discriminação com um aporte teórico, evidenciando que o Direito promove a discriminação no mercado de trabalho. “Esse mote final é muito interessante porque, quando comecei, minha ideia era falar apenas da discriminação da mulher no mercado de trabalho, sem fazer essa crítica ao Direito. Mas quando vamos estudar essa discriminação, percebemos quanto o Direito contribui e institui essa situação”, afirmou a juíza. 

A desembargadora Thereza Gosdal destacou a importância da análise da intersecção entre gênero e tempo, especialmente no contexto da pandemia da Covid-19. A discussão ganha ainda mais relevância no momento atual, pontuou a magistrada, em que o tempo do trabalho invade outras instâncias da vida, e vice-versa.

“O trabalho em home office traz a mistura do público e do privado, do tempo de trabalho com o tempo das outras coisas da vida. Isso atinge mais duramente a mulher do que o homem, porque é a mulher que, em geral, tem que dar conta de seus entes doentes, idosos ou filhos, e também do trabalho. Então, a ideia de pobreza de tempo se coloca de forma muito mais acentuada”, disse.

Outro ponto abordado no livro e na live foi o trabalho de gerenciamento das tarefas cotidianas, ação comumente invisibilizada e de difícil mensuração de tempo. “Sobre o trabalho doméstico e de cuidados, a Bárbara destacou o impacto da tarefa de gerenciamento dos tempos. Nunca tinha parado para pensar sobre isso e fiquei pasma quando vi como se gasta tempo refletindo sobre o tempo. E isso é uma tarefa das mulheres. É uma tarefa de decisão que também desgasta e nos torna mais pobres de tempo”, destacou Luana Leal.

Para Áurea, o encontro foi uma oportunidade de debater os principais tópicos do livro e mostrar “por que eles são tão importantes para homens e mulheres, para o mundo do trabalho e todos que se preocupam com uma sociedade e um mundo melhores”. E também para fazer com que “mais pessoas possam se informar e refletir sobre a naturalização dos obstáculos que são impostos às mulheres e que dificultam não só o seu ingresso, mas também sua permanência no mercado de trabalho”.

Veja a live na íntegra:
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