13 de julho de 2020 . 16:56

Live da AMATRA1 destacou laços de solidariedade em ambiente de trabalho

A formação de laços de solidariedade e a empatia como estratégias de sobrevivência no ambiente de trabalho foram destaques na live cultural da AMATRA1, na última sexta-feira (10). Com mediação do diretor da associação Glener Stroppa, os magistrados José Nascimento e Luís Guilherme Bonin conversaram sobre o filme “Dois Dias, Uma Noite”. A transmissão está disponível no YouTube e no Facebook

“É um falso filme triste. A personagem principal, Sandra, vem de um afastamento do trabalho por conta de uma depressão severa e, ao retornar, se vê diante de um dilema. Os dezesseis colegas precisam votar se ela perde o emprego e eles ganham um bônus de € 1 mil, ou se ela deve permanecer, sem que eles tenham o bônus”, contextualizou Nascimento. “A personagem tem, então, um final de semana, dois dias e uma noite, para tentar convencê-los que deveria ficar no emprego.” 

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Sandra carrega em si uma culpa por não ser “empregável”, e, entre votos a favor e contra, luta até o último momento para tentar reverter a demissão. Para Bonin, o filme retrata dilemas morais e convida o espectador a se colocar no lugar dos personagens. 

“Pensamos primeiro em Sandra como ‘coitada’, vai perder o emprego e está se rebaixando ao pedir votos favoráveis à sua permanência.” Mas ao conhecer as histórias dos demais personagens, também é possível ser solidário às causas deles, que usariam o benefício para mudar de vida ou pagar a faculdade dos filhos. 

“É curioso notar que quando ela vai conversar com o patrão, ele alega que, durante a licença médica dela, a empresa conseguiu fazer o mesmo trabalho com 16 pessoas, ao invés de 17. E justifica dizendo que não quis dispensá-la, mas que deu a opção para as pessoas votarem entre o bônus ou permanência da colega de trabalho.” Situação que cria um dilema entre a sobrevivência e o coletivo, sem qualquer intervenção jurídica trabalhista ou de um sindicato, conforme destacou o magistrado. 

Stoppa apontou que os colegas acabaram se aproveitando do afastamento de Sandra para escolhê-la como dispensável. “Evidencia também um preconceito com essa classe de trabalhadores. Um problema cada vez maior no mercado de trabalho. As doenças de natureza psicológicas, depressões, que vêm se agravando por conta da uberização do mercado de trabalho.” 

A questão do trabalho como parte do processo identitário da personagem também contribui de maneira significativa para que Sandra precisasse lutar pela vaga, como destacou Nascimento. “Não se passa incólume por esse filme, e espero que sirva de reflexão para nós, como pessoas e como juízes também.” 

Veja a live da AMATRA1 na íntegra:
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