14 de setembro de 2020 . 15:29

Magistrados debatem os movimentos sindicais, em live da AMATRA1

Retratadas no filme “Eles Não Usam Black-Tie”, as lutas sindicais foram tema na live cultural desta sexta-feira (11). O desembargador Rogério Martins, diretor da AMATRA1, o juiz José Carlos Garcia, do TRF2, e o mediador do encontro, juiz do Trabalho Rafael Pazos, falaram sobre os aspectos históricos da obra lançada em 1981. Eles também traçaram um paralelo entre os movimentos sindicais da década de 80 e o cenário atual. A live está disponível na íntegra no canal da associação no YouTube e no Facebook.

Na obra dirigida por Leon Hirszman, Tião (Carlos Alberto Riccelli), planejando se casar com a namorada grávida, decide furar a greve iniciada na fábrica em que trabalha. A postura do jovem, no entanto, desagrada seu pai, Otávio (Gianfrancesco Guarnieri), que havia sido preso pela ditadura militar e participa da liderança do movimento dos trabalhadores.

A importância histórica do longa-metragem é um dos recortes feitos pelo juiz José Carlos. Ele destacou que o filme foi produzido durante as grandes greves do ABC, que resultaram na criação de sindicatos e na mudança da estruturação das lutas dos trabalhadores.

“O filme é emblemático na representação do início da fase terminal da ditadura, do papel da organização dos trabalhadores e da construção do então novo sindicalismo brasileiro”, disse.

Pazos relacionou os aspectos histórico tratados no filme com o momento em que o Brasil se encontra, ressaltando a atualidade do tema. “Naquela época, estávamos saindo de um período ditatorial, ainda havia uma ditadura. Hoje, temos um período autoritário de ataque aos trabalhadores. Achei muito importante esse ponto histórico relacionado ao momento atual. Parece que o filme foi rodado hoje, embora seja de 40 atrás”, afirmou o juiz.

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O desembargador Rogério pontuou a retomada da tradição do Cinema Novo brasileiro da década de 60, já que “Eles Não Usam Black-Tie” levou “para dentro das telas o povo, as pessoas, o mundo real”.

“É quase um coroamento dessa estética introduzida pelo Cinema Novo, de um filme feito ideologicamente com e pelas classes populares. A temática traz para o cinema o que havia de mais pulsante no Brasil no final da década de 70, que era o movimento sindical ressurgindo e enfrentando a ditadura através das suas manifestações de massa. O filme é feito do que era feito o Brasil naquele momento.”

Para José Carlos Garcia, o presente cenário é de forte fragmentação das classes trabalhadores e desmobilização dos sindicatos brasileiros. Tal fragmentação, explicou, obedece aos imperativos econômico e político-ideológico, canalizados, em grande parte, por mudanças nas relações trabalhistas.

“Se temos teletrabalho, terceirização ilimitada e precarização dos contratos de trabalho, quebramos o fundamento do que são os sindicatos desde o século 19”, disse. “Esses sindicatos e essa forma de organização de luta exigem a unidade física e espacial e esse compartilhamento das condições de trabalho, que é uma condição para o compartilhamento da solidariedade entre os trabalhadores, construído na luta sindical de enfrentamento ao capital”, completou Garcia.

Na mesma linha, Rogério Martins questionou como o sindicalismo dará conta do mundo do trabalho atual. “Como será o movimento sindical com trabalhos pulverizados, episódicos, feitos em casa, sem aglomeração? Como se pode ter movimento sindical com desmantelamento das empresas, dos parques industriais? Essa é uma grande demanda que teremos que interpretar não só à luz do sindicato, mas à luz do mundo do trabalho”, disse o magistrado.

Veja a live na íntegra:
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