28 de setembro de 2020 . 12:56

Magistrados e psiquiatra analisam história do vilão Coringa, em live

O desamparo e a loucura do personagem Coringa em uma sociedade violenta foram discutidos na live cultural desta sexta-feira (25) sobre o filme homônimo estrelado por Joaquin Phoenix. O juiz do Trabalho Marcel Bispo e o psiquiatra Roberto Gomes falaram das características do vilão, destacando traços da personalidade de Arthur Fleck. Mediado pela juíza do Trabalho Patrícia Lampert, a conversa está disponível na íntegra no canal da AMATRA1 no YouTube e no Facebook.

O longa-metragem mostra a trajetória do menosprezado palhaço de aluguel Fleck até sua consolidação como violento assassino de Gotham City. Segundo o diretor da AMATRA1 Marcel, a situação de doença, abandono e sofrimento do protagonista causa empatia nos espectadores. No entanto, a privação dos remédios para controle de seus distúrbios lhe confere potência, fazendo com que o Coringa nasça do “empoderamento causado pela loucura”, afirmou o magistrado.

“A loucura dele é um pouco estranha porque não comete nenhum ato rigorosamente tão insano. Ele dá resposta, consegue racionalizar seus atos de violência, que são de defesa ou vingança. No filme, ele consegue justificar que tudo é resultado da colisão de um doente mental com uma sociedade que o despreza.”

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A história do personagem, que transita entre os extremos do drama e da comédia, também causou compaixão em Patrícia. “Ele é vilão mas, ao longo do filme, torcemos por ele, sem saber exatamente pelo que. Torço para ele resistir apesar de tudo que está contra. Mas tem outra parte da resistência, que é ele se voltar contra tudo que está acontecendo”, afirmou a diretora da associação.

A risada descontrolada do Coringa, uma das características mais marcantes do personagem, foi comentada pelo psiquiatra Roberto Gomes. Segundo o médico, as crises de riso são consequências da epilepsia gelástica, uma doença rara que pode ter origem, entre outras causas, por tumores em locais profundos no cérebro.

“Sabemos que ele sofreu sérias privações, abusos físicos graves quando era criança, foi encontrado amarrado completamente desnutrido com traumas cerebrais. É possível que essa violência provoque lesões residuais nas regiões frontais e temporais do cérebro, que geram dificuldade de controle dos impulsos. Essa dificuldade pode ser ativada quando cenas que recordem os abusos se apresentem diante dele”, explicou.

Coringas de Phoenix e Ledger

Marcel diferencia as características do Coringa de Joaquin Phoenix das do vilão interpretado por Heath Ledger em “Batman: O Cavaleiro das Trevas”. Enquanto o personagem de Ledger mostra uma loucura sem motivação e causalidade, o de Phoenix a expressa em decorrência de seus traumas. 

“Ele responde a um sofrimento, e você acaba sofrendo também. A loucura, no filme, liberta. Ele melhora depois de ficar sem medicamento, não fica completamente surtado. Os atos têm explicação.”

Para o magistrado, o Coringa de Heath Ledger tem como finalidade  “mostrar o absurdo que é ter finalidade, planos, o quanto a ética, a moral e os códigos que tanto afirmam são tão furados que, na primeira necessidade, todos abrem mão”.

Mensagem de bondade e empatia

Uma das possíveis leituras do filme é sobre a bondade ou a falta dela, destacou Roberto Gomes, relembrando a cena em que o vilão beija a testa de Gary, seu antigo colega de trabalho, e afirma que ele o tratava bem.

“Esse rapaz procurava desesperadamente alguém que o abraçasse com afeto e proteção, e nao encontrou. Então, o prazer dele foi confessar que gostava de matar, sentia graça”, disse o especialista.

“É passada uma questão sobre empatia. Ele mostra muito as necessidades dele, e uma das principais é pertencer, estar em sociedade, conviver, mas isso é negado o tempo todo. Essa necessidade vai se transformando em algo que precisa ser suprido. Ele fala que ninguém o vê e o escuta várias vezes”, completou Patrícia.

Veja a live na íntegra:
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