09 de julho de 2021 . 16:01

Pandemia da Covid-19 agrava falta de limite entre trabalho e descanso

A pandemia da Covid-19 alterou significativamente o modus operandi do mundo do trabalho. Em decorrência da crise sanitária, trabalhadores de diferentes países se viram diante da necessidade de adaptação das atividades, muitas vezes levadas para dentro de casa. E foi justamente o home office que intensificou um problema já existente: a falta de limites entre os horários de trabalho e de descanso. Na reportagem “‘Isso simplesmente não para!’ Precisamos de uma nova lei para proibir e-mails fora do expediente?”, o jornal britânico “The Guardian” mostrou que questões como o direito à desconexão e a necessidade de disponibilidade ao trabalho em tempo integral tem afetado a vida dos empregados.

A matéria aborda dados de uma pesquisa sobre o impacto da Covid-19 na natureza do trabalho, que constatou aumentos significativos na produção. Com base no horário do primeiro e do último e-mails respondidos por trabalhadores da América do Norte, da Europa e do Oriente Médio, os pesquisadores concluíram que, desde o início da pandemia, a jornada média de trabalho foi estendida em 48,5 minutos.

Entrevistada pela reportagem, a gerente de mídias sociais Katie contou que os colegas de equipe passaram a enviar e-mails até às 23 horas, esperando um retorno breve, desde o início do trabalho remoto. O “bipe” das notificações durante seus momentos de relaxamento se tornou tão incômodo que ela precisou desativar o som das notificações do celular e do notebook.

“Eu sei que é porque meus colegas estão sobrecarregados de trabalho e apenas querem limpar a carga de trabalho antes de acumular a pilha do dia seguinte… Mas ouvir aquele ‘bing’ enquanto se está jantando ou sentado em frente à TV faz parecer que você está permanentemente no trabalho”, disse.

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A expectativa de que o empregado esteja sempre disponível para o empregador é outro ponto tratado na matéria. Como consequência, representantes de classes de trabalhadores do Reino Unido pedem que o “direito de se desconectar" seja estabelecido na reforma da legislação trabalhista, prevista para este ano. O objetivo é criar regras para impedir que patrões mantenham contato frequente com os empregados fora do expediente ou durante licenças.

A medida foi adotada na França, em 2016. Aplicada para companhias com mais de 50 empregados e através de negociação coletiva, a lei coloca limitação expressiva quanto ao contato fora da jornada, e exime o trabalhador da obrigatoriedade de estar constantemente à serviço do empregador. Outros países, como Itália e Espanha, também já promoveram determinações parecidas.

A reportagem do “The Guardian” mostra, ainda, os efeitos da intensificação do trabalho para a saúde dos trabalhadores. Sintomas como estresse, depressão, ansiedade, insônia e burnout têm feito parte da rotina dos empregados com frequência, em decorrência dos novos arranjos do expediente. De acordo com uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), as longas jornadas de trabalho têm aumentado o número de mortes por doenças cardíacas e acidente vascular cerebral.

Segundo Abigail Marks, professora de futuro do trabalho na Newcastle University Business School, o aumento na produtividade notado no ano passado foi recebido como um triunfo, mesmo com a prevalência de casos de burnout. “Não é psicologicamente possível para nós continuar trabalhando dessa forma”, disse.

Como primeiro passo para superar o problema, Abigail indicou ser necessário “parar com essa celebração crua da produtividade” e rejeitar a ideia de que vale a pena sacrificar o tempo e a saúde por isso.

A realidade enfrentada pelos ingleses se assemelha a de milhares de brasileiros. Mostramos aqui no site da AMATRA1 a opinião de especialistas sobre os impactos das mudanças - entre elas, o excesso de cobrança - do mundo laboral na saúde mental dos trabalhadores. A intensificação de quadros de ansiedade, depressão e pânico foi um dos pontos indicados como alarmantes pelos profissionais.

Clique aqui para ler na íntegra a reportagem “‘Isso simplesmente não para!’ Precisamos de uma nova lei para proibir e-mails fora do expediente?”.

*Foto: Anete Lusina/Pexels < VOLTAR