03 de agosto de 2020 . 17:15

Trabalho infantil e escravo são debatidos em live sobre ‘Menino 23’

O documentário “Menino 23” foi o tema da live cultural da AMATRA1, na sexta-feira (31). A juíza Suzane Schulz, do TRT-17 (ES), e o professor Eduardo França, do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), debateram assuntos como trabalho infantil, trabalho análogo ao de escravizados e o pensamento eugenista, que se instalou no Brasil em meados do século passado. A mediação foi da diretora da AMATRA1 Mônica do Rego. O evento foi transmitido pelo canal da AMATRA1 no YouTube e pelo Facebook.

Através da investigação do historiador Sidney Aguilar sobre a fazenda Santa Albertina, no interior de São Paulo, a obra resgata fatos ocorridos em um passado recente do Brasil. No decorrer da pesquisa, descobre-se que 50 meninos, em maioria negros, foram levados de um orfanato católico no Rio de Janeiro para prestar serviços em uma fazenda de propriedade da família Rocha Miranda, integrante da elite brasileira e simpatizante do nazismo.

A juíza Suzane ficou impactada pela obra. “Já tinha visto o filme anteriormente e, ao rever, tive a mesma indignação, o mesmo nó na garganta, porque é muita indignidade, muita maldade. Tem-se o racismo, que a gente ainda vê presente na sociedade, o trabalho forçado, compulsório, análogo ao de escravos, que infelizmente também permanecem na sociedade. Também vemos o fascismo social, não como regime político, mas como excludente, que também é encontrado ainda hoje”, disse a gestora regional do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem.

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A magistrada destacou que o trabalho infantil no Brasil tem recorte racial, indicando que 63% das crianças e adolescentes que trabalham são negros. Recortando apenas o trabalho doméstico, 74% são negras. Se fizermos, ainda, recorte de gênero, 94% são meninas. Então, percebemos que andamos, mas continuamos tendo dificuldade enorme.” 

Na leitura de Eduardo França, o filme se vincula menos ao passado escravista do país e mais ao presente vivenciado nos 1920, 1930 e 1940, “em que o Brasil viveu o racismo mais cruel e intenso” e se desenhava para o futuro.

O professor de História pontuou que, no período, se institucionalizava no país o pensamento eugenista, que via na exclusão de grupos sociais específicos a base para o desenvolvimento da sociedade.

“Os meninos do orfanato, negros, faziam parte do não-brasileiro que se queria, de um Brasil do futuro que deveria ser civilizado e moderno - o que, na perspectiva eugênica, tinha que ser branco. Os garotos eram negros, mas poderiam ser índios, ‘mulatos’ ou brancos pobres, que estavam destinados às margens e ao trabalho mecânico. Estavam excluídos do Brasil que se projetava para o futuro. Quando os meninos vão para a fazenda, vão justamente para serem disciplinados e se tornarem trabalhadores que forneçam a base para a nação se civilizar.” 

A mediadora Mônica relembrou que, a pretexto de serem educados, os meninos acabaram sendo submetidos a situações de extrema vulnerabilidade, trabalhos forçados, castigos físicos e cerceamento de liberdade.

“A história é muito triste e o filme é muito impactante, sobretudo por sabermos que, até hoje, apesar de termos uma legislação muito avançada para o combate ao trabalho escravo e ao trabalho infantil, essa realidade ainda persiste”, afirmou.

Veja a live na íntegra:
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