“A poesia está muito além das palavras que a materializam no papel. Aprender técnicas de escrita não transforma um homem em poeta. Em sentido amplo, podemos encontrar a poesia em qualquer lugar se tivermos sensibilidade para vivenciá-la: pode estar na história contada nos autos ou no olhar de um homem que procura o Poder Judiciário na tentativa de restaurar a sua dignidade; na sala de audiências e nos autos processuais.”

Ligada à literatura desde a infância, a juíza não vê a arte como válvula de escape. “As palavras surgem de experiências intensamente vivenciadas”, afirmou. Fotógrafa amadora, ela conta que sua escrita está fortemente ligada às imagens presenciadas e registradas.
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“Normalmente, fotografo antes. Eddie Adams, um dos grandes mestres da fotografia, disse que ‘fotografias são as armas mais poderosas do mundo’. Elas denunciam a barbárie. Por outro lado, desvendam a beleza no meio do caos. Revelam as luzes e as sombras que envolvem a humanidade. No século da indiferença, ainda temos a arte como instrumento de resistência”, disse Cláudia.
Um de seus poemas, “Mãe África”, publicado em “Tecendo a Magia”, foi escrito durante a viagem de Cláudia à Tanzânia, país da costa oriental do continente africano, e inspirado na fotografia de uma mulher protegendo o filho no colo.
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“A metáfora da Mãe África possui várias simbologias, entre elas a luta de um povo para preservar suas raízes. Na seca, no sol escaldante, rodeada de feras, com a pele impregnada de poeira, Mãe África dança para distrair a morte. Grande símbolo de luta e resistência”, explicou.
Cláudia Reina também contou que sua poesia “Pássaro Liberto” deu nome ao terceiro livro do grupo. “É uma coletânea em homenagem a Paulo Merçon, poeta, músico, fotógrafo e juiz do Trabalho, falecido em 2014. O poema é dedicado ao Paulo e ao grande dramaturgo Henrik Ibsen”, disse.
Leia o poema “Mãe África” na íntegra:
Teus olhos sorvem
o calor das savanas.
Velam, à sombra de Deuses,
os filhos abandonados
no berçário
desta terra bruta.
Nas areias quentes
das estepes ressequidas,
danças para distrair a morte.
Tu bem sabes:
as feras estão
de guarda.
És o centro de uma
aquarela seca,
a mais antiga
das mulheres.
Tu cantas
todos os prantos
de todas as mães.
Tu carregas
todas as dores
de todos os partos.
Bendito é o teu ventre.
Leia o poema “Pássaro Liberto” na íntegra:
Livre bem livre
Sem prisão
nem teto
voo
flutuo ao vento
pássaro liberto.
Livre bem livre
Sem prisão
nem teto
corto os ares
atravesso o mundo
pássaro inquieto.
Livre bem livre
Sem prisão
Nem teto.
*Fotos: Cláudia Reina