Jovens atletas são tratados como commodities, diz procuradora do Trabalho Cristiane Sbalqueiro

Foto: Agência Brasil

A morte de 10 atletas das categorias de base do Flamengo levantou a discussão sobre as condições de trabalho e de vida a que jovens jogadores de futebol são submetidos no Brasil. Os jovens, entre 14 e 16 anos, morreram em um incêndio enquanto dormiam no alojamento do Centro de Treinamento do clube (Ninho do Urubu) em 8 de fevereiro.

Na avaliação de especialistas que atuam no combate ao trabalho infantil, os jovens atletas são tratados como “commodities” e têm seus direitos violados na busca pelo sonho de se tornar jogador profissional. A procuradora do Trabalho Cristiane Maria Sbalqueiro comparou as divisões de base no Brasil a garimpos, em entrevista à Agência Brasil.

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Na visão dela o único objetivo de clubes e empresários é encontrar a “pepita de ouro” sem qualquer preocupação com os danos que podem causar aos jovens. Segundo a procuradora, olheiros, empresários e clubes fazem peneiras e testes com milhares de jovens até descobrir algum talento, mas não há atenção com a formação destes jovens.

“A estratégia é de garimpo para exportação. Os nossos atletas são commodities (como ouro, café ou boi gordo). Isso revela nossa cultura”, destaca a procuradora, que atua há mais de dez anos na fiscalização aos clubes.

Segundo ela, o interesse é que o jovem chame a atenção de um grande clube da Europa e seja vendido. O caso mais famoso nos últimos anos é o do atacante Vinícius Junior. O jovem se destacou nas divisões de base do Flamengo e foi vendido, em 2017, com apenas 16 anos, por 45 milhões de euros para o Real Madrid, da Espanha.

A secretária-executiva do FNPETI (Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil), Isa Oliveira, tem visão semelhante sobre a mercantilização das divisões de base. Segundo ela a extrema desproteção da população infantojuvenil no país facilita a atuação de empresários e aliciadores que atuam “vendendo ilusão” às famílias.  

Em busca do sonho, os jovens, geralmente de baixa renda e com poucas oportunidades na vida, se submetem a condições degradantes oferecidas por empresários e clubes. “Os adolescentes ficam em uma situação de extrema desproteção, com risco iminente de ter seus direitos violados”, afirma secretária-executiva do FNPETI.

Fonte: Agência Brasil