03 de julho de 2019 . 19:13
Filme ‘Eu, um outro’ busca responder se todo trabalho é digno
O documentário “Eu, um outro: uma experiência na Justiça do Trabalho” foi lançado nesta quarta-feira (3). Mais de 100 pessoas foram à FIRJAN prestigiar o lançamento pelo Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT-1) do filme, que acompanha a experiência de magistrados em uma jornada de trabalho como garis, copeiros, cobradores de ônibus e outros profissionais.
Além de exibir as experiências de magistrados em funções menos valorizadas, o documentário busca responder a uma complexa pergunta: todo trabalho é digno?
Para o desembargador Marcelo Augusto de Oliveira, diretor da Escola Judicial, a resposta é igualmente difícil e envolve múltiplos aspectos. “Todo trabalho é digno se o trabalhador for tratado com dignidade. Todo trabalho é digno se não for fonte de morte, humilhação e exploração. Nem todo o trabalho é digno se a vida do trabalhador for um simples elemento das finanças da empresa. Nem todo trabalho é digno se faltar respeito pela parte mais frágil”, afirmou.
Após a exibição do filme, houve um debate sobre o valor social do trabalho com a diretora do documentário, Maiara Líbano; o desembargador do Trabalho Marcelo Augusto de Oliveira; o juiz do Trabalho Roberto Fragale; a juíza do TJ-RJ Andréa Pachá e o psicólogo Fernando Braga. Os participantes discutiram ainda conceitos como invisibilidade pública e subjetividade.
Ao site da AMATRA1, Ronaldo Callado, presidente da associação, e Marcelo Augusto de Oliveira contaram suas experiências na atividade. Callado participou da edição de 2018 como telefonista. Trabalhando numa sala completamente envidraçada, dentro de uma agência bancária, ele pôde experimentar a chamada invisibilidade pública. “Todos me viam, mas ninguém falava comigo. Não vieram perguntar quem eu era nem me dar boas-vindas”, contou.
Oliveira, que participa desde a primeira edição, trabalhou como gari e ajudante de caminhão. A atividade o fez lembrar que a maioria da população não tem os mesmos confortos e possibilidades que ele. “Normalizamos coisas que não são normais para todos. Achamos um direito nosso, algo muito natural, aquilo que é sonegado para quase todos.”
O projeto fez Callado reconhecer privilégios de classe. “Uma funcionária narrou problemas familiares pelos quais eu jamais passaria. Com o pai doente, ela não podia recorrer a um atendimento melhor, porque não tinha dinheiro para custear plano de saúde”, contou.
Um outro olhar
A experiência ajuda os juízes a sentir na pele dificuldades enfrentadas por esses trabalhadores. O diretor da Escola Judicial passou um cansativo dia como ajudante de caminhão: sua jornada começou às 7h40, em São João de Meriti. Ele ajudou a carregar o veículo e fez entregas pelo centro de Niterói até as 19h30. Oliveira voltou para casa, na mesma cidade, mas os colegas de trabalho ainda enfrentaram a viagem de volta a São João de Meriti. Para eles, o expediente foi até nove da noite.
“Canso de ouvir e ler nas sentenças que essa jornada é inverossímil, mesmo quando há prova nos autos. Ser um bom juiz não passa somente pela cognição, erudição ou pela capacidade de julgar rapidamente. É se preocupar com gente”, afirmou.
Para Callado, a atividade capacita magistrados a prestar um serviço jurisdicional mais humano. “À medida que envelhecemos na profissão, tendemos a adotar um olhar mais duro para o outro. A experiência me fez retornar ao olhar de quando fui aprovado no concurso”, afirmou. Segundo Oliveira, o projeto faz o juiz questionar sua vida e valores. “Uma pessoa melhor certamente será um juiz melhor.” < VOLTAR
Além de exibir as experiências de magistrados em funções menos valorizadas, o documentário busca responder a uma complexa pergunta: todo trabalho é digno?
Para o desembargador Marcelo Augusto de Oliveira, diretor da Escola Judicial, a resposta é igualmente difícil e envolve múltiplos aspectos. “Todo trabalho é digno se o trabalhador for tratado com dignidade. Todo trabalho é digno se não for fonte de morte, humilhação e exploração. Nem todo o trabalho é digno se a vida do trabalhador for um simples elemento das finanças da empresa. Nem todo trabalho é digno se faltar respeito pela parte mais frágil”, afirmou.
Após a exibição do filme, houve um debate sobre o valor social do trabalho com a diretora do documentário, Maiara Líbano; o desembargador do Trabalho Marcelo Augusto de Oliveira; o juiz do Trabalho Roberto Fragale; a juíza do TJ-RJ Andréa Pachá e o psicólogo Fernando Braga. Os participantes discutiram ainda conceitos como invisibilidade pública e subjetividade.
Ao site da AMATRA1, Ronaldo Callado, presidente da associação, e Marcelo Augusto de Oliveira contaram suas experiências na atividade. Callado participou da edição de 2018 como telefonista. Trabalhando numa sala completamente envidraçada, dentro de uma agência bancária, ele pôde experimentar a chamada invisibilidade pública. “Todos me viam, mas ninguém falava comigo. Não vieram perguntar quem eu era nem me dar boas-vindas”, contou.
Oliveira, que participa desde a primeira edição, trabalhou como gari e ajudante de caminhão. A atividade o fez lembrar que a maioria da população não tem os mesmos confortos e possibilidades que ele. “Normalizamos coisas que não são normais para todos. Achamos um direito nosso, algo muito natural, aquilo que é sonegado para quase todos.”
O projeto fez Callado reconhecer privilégios de classe. “Uma funcionária narrou problemas familiares pelos quais eu jamais passaria. Com o pai doente, ela não podia recorrer a um atendimento melhor, porque não tinha dinheiro para custear plano de saúde”, contou.
Um outro olhar
A experiência ajuda os juízes a sentir na pele dificuldades enfrentadas por esses trabalhadores. O diretor da Escola Judicial passou um cansativo dia como ajudante de caminhão: sua jornada começou às 7h40, em São João de Meriti. Ele ajudou a carregar o veículo e fez entregas pelo centro de Niterói até as 19h30. Oliveira voltou para casa, na mesma cidade, mas os colegas de trabalho ainda enfrentaram a viagem de volta a São João de Meriti. Para eles, o expediente foi até nove da noite.
“Canso de ouvir e ler nas sentenças que essa jornada é inverossímil, mesmo quando há prova nos autos. Ser um bom juiz não passa somente pela cognição, erudição ou pela capacidade de julgar rapidamente. É se preocupar com gente”, afirmou.
Para Callado, a atividade capacita magistrados a prestar um serviço jurisdicional mais humano. “À medida que envelhecemos na profissão, tendemos a adotar um olhar mais duro para o outro. A experiência me fez retornar ao olhar de quando fui aprovado no concurso”, afirmou. Segundo Oliveira, o projeto faz o juiz questionar sua vida e valores. “Uma pessoa melhor certamente será um juiz melhor.” < VOLTAR
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