06 de março de 2024 . 15:52

Juízas falam sobre os desafios de conciliar lar e tribunal

As mulheres na magistratura enfrentam desafios constantes e singulares ao tentar conciliar as demandas no tribunal com ocupações cotidianas familiares, como a administração do lar, a criação dos filhos e o cuidado com pais idosos. Depoimentos de duas magistradas da Justiça do Trabalho do Rio revelam barreiras e estratégias para equilibrar trabalho e vida pessoal.

Conheça os relatos das juízas.

Márcia Cristina Teixeira Cardoso

Diretora de Aposentados e Pensionistas da AMATRA1, a juíza, hoje aposentada, conta sobre o esforço feito ao longo da carreira na tentativa de conciliar as demandas do trabalho no tribunal com as de casa. Sua trajetória é marcada por momentos de resiliência e comprometimento com o serviço público.

O maior desafio, rememora a magistrada, foi a perda dos pais. A mãe, com doença grave, ficou em tratamento de 2000 a 2002. De 2003 a 2005 foi a vez do pai, que, viúvo, após 47 anos de casamento, precisava da atenção da única filha. Ela pediu remoção para Niterói a fim de encurtar a distância até sua casa. 

Apesar das dificuldades pessoais, Márcia Cristina buscou oportunidades de crescimento profissional, como o MBA em Administração Judiciária cursado na  Fundação Getulio Vargas. 

Na visão da magistrada, a crescente carga de trabalho imposta aos juízes pode levar facilmente à Síndrome de Esgotamento Profissional (ou Síndrome de Burnout). Ela fala sobre a tradição de colocar sobre as mulheres a responsabilidade da educação dos filhos e da vida doméstica.

“Nós, mulheres, ainda somos vistas por muitos como as únicas responsáveis pela educação dos filhos e administração dos assuntos domésticos. É um viés cultural ainda presente e demanda muito trabalho para desconstruir. Mas vamos em frente!”, afirma. 

Márcia Cristina ressalta a importância de equilibrar trabalho e vida particular, mas reconhece a prioridade da família em sua vida. A experiência a ensinou a não se cobrar tanto e a valorizar os momentos de convívio familiar, mesmo diante das exigências profissionais.

"Aprendi que já sou bastante exigente comigo mesma e que é impossível ser boa em tudo. Por vezes,  o trabalho é prioridade (as sentenças em atraso, por exemplo), mas nossa família precisa vir em primeiro lugar. Estar  atenta para não perder a conexão com o filho,  reservar um tempo para jantar a dois, passar um final de semana fora ou viajar em família", comenta. 

Anélita Assad Pedroso

Juíza ativa na magistratura trabalhista há cerca de 25 anos, ela relatou sua trajetória desde os primeiros dias na Justiça do Trabalho até os desafios enfrentados ao se tornar mãe e cuidar dos pais idosos.

"Quando tomei posse, era solteira, sem filhos e morava com meus pais. O apoio e a compreensão da minha família sempre foram essenciais para dar conta de tantas obrigações e cobranças", diz.

Mesmo sem perdas traumáticas, a magistrada teve que abrir mão de cursos e funções profissionais devido às demandas pessoais.

“A mulher precisa tirar forças, mesmo quando parece que chegou ao seu limite, para levantar a cabeça, respirar fundo e seguir em frente, perseverando para encontrar algum tempo livre para seu autocuidado e para fazer algo que gosta, sem culpa”, afirma Anélita.

A juíza reconhece que a carreira na magistratura oferece benefícios importantes. Ainda assim, reforça a necessidade de considerar reivindicações, como o aumento do número de servidores, a designação de juiz auxiliar e a adequação das metas, à realidade de cada Vara.

Também destaca o exemplo de sua mãe, “mulher guerreira” que sempre valorizou o trabalho como meio de independência e se esforçou para conciliar a carreira de professora com a casa, o marido e a maternidade.

“Parabéns às mulheres! E que não nos falte equilíbrio emocional, empatia, fé e esperança no enfrentamento de nossos desafios diários”, afirma.

Dia Internacional das Mulheres 

Nesta sexta-feira, 8 de março, o mundo celebra o Dia Internacional das Mulheres. A data teve origem no movimento operário, em 1908, quando 15 mil mulheres marcharam em Nova York por melhores condições de trabalho. A data internacional foi celebrada pela primeira vez em 1911 na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. 

Oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, a data é uma ocasião para saudar os avanços das mulheres e aumentar a conscientização sobre a desigualdade de gênero.

Foto: Imagem ilustrativa / Freepik.

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