24 de agosto de 2020 . 12:47

Live sobre o filme ‘Ela’ debateu as relações humanas e a tecnologia

O filme de ficção científica e romance “Ela” foi o ponto de partida para discussões sobre as relações humanas e a tecnologia, na live cultural da AMATRA1, na sexta-feira (21). O professor Rodrigo de Souza Tavares, da UFRRJ, e a diretora de Secretaria da 2ª Vara do Trabalho de São João de Meriti, Ana Lucia Cozzolino Gosling, foram os debatedores do evento. A mediação do encontro foi feita pela juíza do Trabalho aposentada Raquel Rodrigues Braga. A live teve transmissão no canal da AMATRA1 no YouTube e no Facebook.

A obra escrita e dirigida por Spike Jonze conta a história de Theodore (Joaquin Phoenix), um recém-divorciado que se apaixona por Samantha, o novo sistema operacional de seu computador. Para Ana Lúcia, o grande diferencial do filme é não ser visto apenas como uma produção de ficção científica.

“Pensamos nele como uma história de amor ou, no máximo, como um filme de ficção científica para uma história de amor. A opção que o roteirista fez para contar essa história foi tão humana que a sentimos muito próxima. É uma história do futuro, mas é um futuro próximo e verossímil”, disse.

Ana destacou que o longa-metragem aborda muitos assuntos, como a relação do homem com a tecnologia, amor, solidão, trabalho, ciúme e demonstrações de poder nas relações afetivas. Também ressalta que o filme não retrata o futuro de maneira clichê, com carros voadores e hologramas, e mescla elementos visuais de décadas passadas.

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“A grande referência do que é o futuro para nós, como espectadores, é sentimental, não cenográfica. O futuro é um espaço de tristeza, melancolia e solidão, e por isso angustia. Vemos isso nos personagens principais e na multidão, que andam em grupos, mas isoladas em si, interagindo com a tecnologia.”

“Ela” aborda a interação entre seres humanos e a inteligência artificial, que é um problema do futuro mas que já se anuncia no horizonte, indicou Rodrigo Tavares. Entre os tópicos que já se fazem presentes, o professor pontuou a questão da proteção de dados. E destacou que as ferramentas de inteligência artificial são construídas a partir da coleta de dados de grandes bases disponíveis devido à comunicação na internet e outros meios digitais. 

“No filme, a Samantha fala sobre isso ao dizer ‘tem um pouco de você em mim’, e vai se moldando a partir das interações com o Theodore. Ela, que é personalizada, cria uma consciência própria a partir das interações com o usuário. Na verdade, ela está ali coletando dados e respondendo a eles”, disse Tavares.

O professor afirmou que o tema traz discussões sérias sobre a proteção de dados e da intimidade. Pode-se refletir, segundo o ele, sobre “o quanto nossas interações pessoais já são hoje mediadas por algoritmos, o quanto esses algoritmos dependem dos nossos dados para funcionar, o quanto já expomos nossas intimidades de alguma forma e como vamos lidar no futuro em que, talvez, nossas relações mais íntimas sejam mediadas por ferramentas tecnológicas”.

Analisando aspectos do filme pelo âmbito trabalhista, Raquel Braga destacou a coisificação do trabalho e sua tentativa de afastamento como direito. 

“O capitalismo precisa do trabalho, mas não o quer como direito. Então, ele o coisifica, desumaniza o relacionamento com artefatos em substituição ao ser humano. Cria um aprofundamento na incomunicabilidade, que faz com que as pessoas achem mais difícil se relacionar com o outro e prefiram se isolar e se divertir por meio de algum tipo de mecanismo”, afirmou a juíza do Trabalho aposentada.

Veja na íntegra a live cultural da AMATRA1 sobre o filme “Ela”:
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