06 de março de 2020 . 16:56

‘Ser negra em um país racista e machista é ser sobrevivente’, diz advogada

“Sobrevivente”. É assim que se define a advogada Ana Carolina Lima, mulher e negra. Participante da roda de conversa “Mulher e Diversidade”, que acontece na quinta-feira (12), às 14h30, ela falou à AMATRA1 sobre preconceito, feminismo negro, antirracismo e avanço no combate à discriminação racial.

Ana Carolina contou ter sido alvo de racismo em sua vida acadêmica. No curso de Direito, foi a única pessoa negra da turma. Na vida profissional, Ana sentiu novamente o preconceito. “Sempre fui a pessoa a receber o menor salário em todos os lugares em que trabalhei”, disse.

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A advogada citou a escritora negra Angela Davis para dizer como todos podem contribuir na luta contra o racismo. “‘Numa sociedade racista, não basta não ser racista. Tem que ser antirracista’.”

AMATRA1: Como é ser uma mulher negra em um país machista e racista
Ana Carolina Lima: Ser mulher negra em um país racista e machista é ser uma sobrevivente. Enfrento o desafio diário de não me deixar abater com as violências às quais sou exposta cotidianamente, em todos os ambientes em que transito, pelo fato de ser mulher negra.

A: Já sofreu racismo em sua vida acadêmica e profissional?
AC: Sim. Sofri racismo na vida acadêmica e sofro racismo na vida profissional. No curso de Direito, era a única pessoa negra da minha turma. Tentei pautar as questões raciais durante todo o curso. Minha monografia teve como tema “Adoção para a formação de famílias inter-raciais”. Foi um tema extremamente difícil de defender, mas saí com uma nota 10 vitoriosa. Na vida profissional, sempre fui a pessoa a receber o menor salário em todos os lugares em que trabalhei. Por estas razões, resolvi abrir, em sociedade, um escritório de advocacia com uma advogada mulher negra, pois não suportava mais passar por essa situação desigual absurda.

A: De que maneiras o feminismo ajuda no empoderamento de jovens negras?
AC: O feminismo não ajuda as jovens mulheres negras, mas o feminismo negro, sim. O feminismo negro empodera jovens negras através da reivindicação de nossos direitos, dá visibilidade às nossas pautas e autoestima. O feminismo precisa avançar bastante sobre as relações raciais e de interseccionalidades. Apesar da crítica, entendo o feminismo como um movimento de revolução social em permanente construção.

A: De que forma é possível que a sociedade apoie o movimento de mulheres negras?
AC: Como bem disse Angela Davis: “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. Tem que ser antirracista”. A sociedade branca brasileira precisa rever honesta e conscientemente seus privilégios. Não é uma atitude confortável, mas só saindo dessa zona de conforto é que a sociedade evoluirá para algo progressista e libertador. Esta é a forma de apoio real que precisamos.

A: Acredita haver avanço rumo à igualdade racial na sociedade brasileira
AC: Houve um pequeno avanço nas duas últimas décadas. Agora, estamos num período de retrocessos sociais e, por isso, ainda longe de avanços significativos de igualdade racial. Por outro lado,  numa perspectiva positiva, temos leis antirracistas importantes, uma vasta e excelente literatura sobre questões raciais e muitos intelectuais negras e negros em constante ascensão.

*Foto cedida por Ana Carolina Lima < VOLTAR