28 de fevereiro de 2020 . 12:52
‘Você não estava aqui’ retrata efeitos da prestação de serviço por aplicativos
Promessa de autonomia, jornadas exaustivas, pouco descanso e falta de direitos. Presente na realidade de trabalhadores do mundo todo, a precarização das relações trabalhistas intermediadas por aplicativos é o tema do filme “Você não estava aqui”, dirigido por Ken Loach e roteirizado por Paul Laverty. O longa estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (27).
Ambientado na cidade Newcastle, na Inglaterra, o filme conta a história de Ricky Turner (Kris Hitchen), sua esposa, Abby Turner (Debbie Honeywood), e de seus dois filhos adolescentes. Para fugir do desemprego em meio à crise financeira, Ricky compra uma van para prestar serviços como motorista em uma empresa de entregas. “Você não trabalha pra gente. Você trabalha com a gente. Como tudo aqui, a escolha é sua”, diz um representante da companhia ao apresentar a proposta ao protagonista.
Sem vínculo empregatício e exposto ao risco constante de penalizações, ele recebe por entrega realizada e tem sua produtividade controlada pelo aplicativo.
Assim como o marido, Abby também se desgasta para manter a renda familiar sem garantias trabalhistas. Ela trabalha como cuidadora terceirizada de pessoas doentes na modalidade “zero hora”. Neste tipo de contrato, o profissional só trabalha ao ser chamado pela empresa, recebendo apenas pelo serviço prestado. A jornada da personagem chega a 14 horas diárias, sem folgas.
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Em entrevista ao jornal “O Globo”, o diretor britânico contou que há algum tempo pretendia falar sobre o processo de “uberização”, como é conhecida a intermediação do trabalho por plataformas digitais. Loach, de 83 anos, afirmou se tratar de um “filme sobre o aumento da exploração e o que perdemos”.
“Quando você tem um emprego fixo, não pode ser mandado embora da noite para o dia, pode tirar férias e, se fica doente, ainda é pago. Quando mudamos da segurança para a insegurança, há consequências graves para as famílias, para a saúde mental das pessoas, para a felicidade. Está acontecendo com milhões e milhões de pessoas, e não falamos disso. Tratamos como se fosse um fato da natureza, e claro que não é. É um fato de um sistema econômico em que a ciência e a tecnologia não são usados para fazer a vida melhor, e sim para explorar as pessoas e dar lucro a algumas”, disse.
De acordo com Ken Loach, a tecnologia, quando controlada por empregadores, é usada a favor de seus próprios interesses — cortando custos de trabalho e produzindo mais lucros. “A ciência pode ser usada para coisas boas, como fazer as pessoas viverem mais. Mas, na indústria, é usada para explorar trabalhadores.”
Mas há esperanças, segundo Loach. E ela “está na raiva”, no entendimento de que o cenário atual de exploração da classe trabalhadora precisa ser transformado. “Nossa intenção era que o filme levasse o público a ver que isso é errado. Se as pessoas não sentirem algo forte com isso, nada irá mudar”, afirmou.
Veja o trailer do filme “Você Não Estava Aqui”:
*Foto: Divulgação < VOLTAR
Ambientado na cidade Newcastle, na Inglaterra, o filme conta a história de Ricky Turner (Kris Hitchen), sua esposa, Abby Turner (Debbie Honeywood), e de seus dois filhos adolescentes. Para fugir do desemprego em meio à crise financeira, Ricky compra uma van para prestar serviços como motorista em uma empresa de entregas. “Você não trabalha pra gente. Você trabalha com a gente. Como tudo aqui, a escolha é sua”, diz um representante da companhia ao apresentar a proposta ao protagonista.
Sem vínculo empregatício e exposto ao risco constante de penalizações, ele recebe por entrega realizada e tem sua produtividade controlada pelo aplicativo.
Assim como o marido, Abby também se desgasta para manter a renda familiar sem garantias trabalhistas. Ela trabalha como cuidadora terceirizada de pessoas doentes na modalidade “zero hora”. Neste tipo de contrato, o profissional só trabalha ao ser chamado pela empresa, recebendo apenas pelo serviço prestado. A jornada da personagem chega a 14 horas diárias, sem folgas.
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“Quando você tem um emprego fixo, não pode ser mandado embora da noite para o dia, pode tirar férias e, se fica doente, ainda é pago. Quando mudamos da segurança para a insegurança, há consequências graves para as famílias, para a saúde mental das pessoas, para a felicidade. Está acontecendo com milhões e milhões de pessoas, e não falamos disso. Tratamos como se fosse um fato da natureza, e claro que não é. É um fato de um sistema econômico em que a ciência e a tecnologia não são usados para fazer a vida melhor, e sim para explorar as pessoas e dar lucro a algumas”, disse.
De acordo com Ken Loach, a tecnologia, quando controlada por empregadores, é usada a favor de seus próprios interesses — cortando custos de trabalho e produzindo mais lucros. “A ciência pode ser usada para coisas boas, como fazer as pessoas viverem mais. Mas, na indústria, é usada para explorar trabalhadores.”
Mas há esperanças, segundo Loach. E ela “está na raiva”, no entendimento de que o cenário atual de exploração da classe trabalhadora precisa ser transformado. “Nossa intenção era que o filme levasse o público a ver que isso é errado. Se as pessoas não sentirem algo forte com isso, nada irá mudar”, afirmou.
Veja o trailer do filme “Você Não Estava Aqui”:
*Foto: Divulgação < VOLTAR
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