22 de junho de 2020 . 17:28

Live da AMATRA1 aborda impactos da informalidade na vida do trabalhador

Os impactos do desemprego e da informalidade na vida dos trabalhadores foram discutidos na live da AMATRA1 sobre o filme “Você Não Estava Aqui”, na sexta-feira (19). O desembargador Gustavo Tadeu Alkmim e o juiz do Trabalho Felipe Bernardes participaram do debate on-line no Facebook e no YouTube. A apresentação foi da juíza Glaucia Alves, diretora da AMATRA1. 

“Escolhemos este tema por conta da atualidade. O diretor Ken Loach aborda a história de um trabalhador que se vale do uso de um veículo para entregas e, com isso, fica sujeito às condições que lhes são impostas”, resumiu Alkmim. A figura central do filme é Ricky, que tenta driblar problemas financeiros em meio à crise econômica de 2008, através do trabalho informal. Mas a recompensa prometida não se cumpre e, com o passar do tempo, ele passa a se desentender com membros da família.

“Ricky carrega em si o convencimento de que é dono do seu próprio tempo, senhor do seu destino. Que basta se esforçar no trabalho para reverter a situação financeira em doze meses. E no final do filme, que é absolutamente dramático, o personagem reitera a crença de que tudo vai se resolver em seis meses. É o sentimento mais cruel que essas relações de trabalho têm hoje em dia. O convencimento de que tudo vai se resolver, só depende de você”, pontuou o desembargador. 

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Esta ideia do empregado que se vê como “nano empreendedor de si mesmo” tende a se introjetar no indivíduo e se espalha por toda a sociedade, destacou Bernardes. “É uma ideia de suposta liberdade que o filme retrata muito bem. Mas Ricky é empreendedor de que coisa?! De coisa nenhuma”, esclarece. “Ele se vê compelido a produzir mais, mas chega uma hora que começa a dar problema. Como quando ele está no hospital, depois de ser assaltado, e está preocupado porque precisa sair e trabalhar”. 

Para Bernardes, o modelo de trabalho pautado na ideia da economia colaborativa tem pontos positivos, em tese. Mas o juiz alerta que a prática foi adotada principalmente como “chamariz” para criar ideia dos “colaboradores”. “É um discurso ideológico que vai sendo lançado para tentar eliminar o conflito de classes porque nós sabemos que o Direito do Trabalho ganha força em função de um conflito coletivo”, movimento que tende a ser desmontado com a uberização e a terceirização. 

A informalidade também traz consequências para a vida do trabalhador. “Resulta em um enorme desarranjo emocional. Que vai refletir no dia a dia, na família. As dívidas permeiam o filme, como um todo. E vão ser impagáveis”, completou Alkmim. 

O desembargador destaca o papel da família do protagonista, que surge como a possível solução para o destino de Ricky. “O filme tem sinais de resistência, que estão nos filhos dele. A menina resiste à sua maneira e o rapaz resiste não se curvando ao sistema, nas coisas aparentemente mais banais.”

Veja a live na íntegra:
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